segunda-feira, 18 de maio de 2009

O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DOS PAÍSES

Sempre nos preocupou saber a razão ou razões porque o Brasil e os EUA, que começaram o seu desenvolvimento quase ao mesmo tempo, se distanciaram tanto nos aspectos sociais e econômicos.
Analisando os fatos da História e da Economia, como Max Weber e David Landes nos orientaram, chegamos à conclusão que a razão principal para esse distanciamento está nas diferenças de mentalidade: nos EUA a mentalidade reinante nos primeiros temos era a mentalidade protestante, produtiva, científica, séria e democrática dos imigrantes europeus que lá aportaram, enquanto no Brasil prevalecia a mentalidade católica, franciscana, hipócrita, distributiva, teocrática, aristocrática e esclavagista dos povos latinos que aqui se estabeleceram. Procurando assim entender como essa diferença de mentalidades levou a tão grandes disparidades de níveis de vida, buscaremos identificar o que fazer para retomar o caminho e tentar ganhar o tempo perdido.
É patente como o pensamento da maioria das pessoas é contraditório, pois muitas mentem, matam ou roubam, mas depois vão à igreja pedir perdão dos seus pecados e se sentem libertas da culpa... Se há a justiça divina, implacável e certeira, então para que serve a justiça dos homens? Lembre-mo-nos do caso do “moto-boy” criminoso dos parques de São Paulo, um assassino frio e confesso de mais de dez mulheres jovens, que numa entrevista na prisão, onde passa confortável e tranquilamente os seus dias, afirmou que “agora sou um homem novo e limpo, salvo de todos os pecados por deus” depois que um padre o tinha confessado e absolvido de seus crimes...
Comprovando esse modo de pensar, podemos encontrá-lo diariamente em pessoas presumivelmente responsáveis e educadas, como os juizes e fiscais depredadores, os políticos corruptos, os criminosos de “colarinho branco”, os assassinos com curso superior, os parlamentares que violam impunemente a ética parlamentar, os padres pedófilos, e outros.
Procuraremos também abordar mais além os problemas internos do homem, as deformações da psique, causados pelas crenças religiosas: ética desviada, violência descontrolada, desorientação ideológica, alienação dos objetivos.

Introdução do livro "Mentalidade escolástica ou científica?"

“Ideologias e modos de pensar errados nos levam, certa e inevitavelmente, a ações e resultados incorretos e indesejáveis” Spencer.

A situação atual e futura do mundo, embora muitos procurem ignorá-la ou minimizá-la, é muito crítica e perigosa.
As restantes florestas estão sendo derrubadas, a poluição das águas e da atmosfera é cada vez maior, a camada de ozônio está diminuída, o efeito estufa provoca o aquecimento global, sérias mudanças climáticas estão em curso, as reservas de matérias-primas se esgotam rapidamente, a população mundial continua num crescimento explosivo de cerca de 80 milhões de novos habitantes por ano, com o previsível aumento da miséria, da violência, do tráfico de entorpecentes, da corrupção e de outros males, principalmente nos países atrasados. Nações ricas em potencialidades mas mal geridas, continuam subdesenvolvidas e cheias de problemas, os quais se arrastam há séculos, sem soluções visíveis.
Se não equacionarmos e solucionarmos os problemas do mundo, o mais depressa possível, poderemos chegar a um ponto de irreversibilidade, de não retorno, onde a catástrofe anunciada acontecerá certamente...
No Brasil os problemas são semelhantes aos dos outros países sub-desenvolvidos e as soluções aplicadas também se assemelham, mas sem resultados satisfatórios.
Durante milênios os homens deixaram-se conduzir por ideais e teorias, quase sempre apresentados com uma atraente moldura poética e baseados em imutáveis princípios religiosos, felizmente, na maior parte das vezes, com um fundo na prática da vivência histórica dos povos. Por deduções sucessivas e sobre esses princípios eles edificaram gigantescas e complicadas estruturas mentais, pelas quais se guiavam e guiam, como são as mitologias gregas, egípcias, romanas, as religiões, etc. Quando aparecia algum problema para ser respondido, automática e imediatamente se buscavam as soluções fora do próprio homem, nos videntes, nos livros sagrados, nas revelações divinas... Por exemplo, no modo de pensar escolástico, tradicionalmente usado por religiosos e conservadores, parte-se sempre de princípios intocáveis, da afirmação do Homem como ideal, como criatura divina e perfeita, para se chegar, por deduções sucessivas, onde ele está hoje, como ele é agora, o homem real, cheio de defeitos e limitações, o pecador, o anjo caído a ser recuperado.
Este livro procura fazer uma análise mais aprofundada da atual mentalidade dos povos, da mentalidade popular em geral e em particular no Brasil, do modo tradicional de pensar e de encarar a vida dos cidadãos comuns, pois é no pensamento das pessoas que está a origem das ações. Sempre antes de qualquer ação, da maioria das ações pelo menos, há uma análise prévia do que se vai passar depois.
Com exemplos e casos reais do dia-a-dia da vida, procuraremos ilustrar como os pensamentos errados e sem lógica das pessoas podem levar aos maus atos, a impasses e a desastres no comportamento das sociedades.
Por isso, se me permitem, logo aqui no início deste livro, queria deixar um alerta ao leitor: quando, em algum lugar, encontrar alguma opinião ou raciocínio que choque a sua maneira regular de pensar, não se irrite e não desista, vá em frente e, com calma, reflita sobre esse assunto. Verá que talvez a nossa crítica não esteja assim tão errada como logo de início lhe pareceu. A maioria das vezes, as verdadeiras causas dos acontecimentos não são muito fáceis de identificar, pois elas se encontram lá bem no fundo dos fenômenos, escondidas atrás de muito entulho mental, de preconceitos arraigados e de muitas pseudocausas... As respostas simples para problemas complexos são muito atrativas, e nem por isso deixam de estar erradas... Se a descoberta das verdadeiras razões dos problemas fosse fácil, o mundo e a Humanidade certamente não estariam nesta atual e triste situação... Já alguém disse que “pensar corretamente e com lógica é um dos fenômenos mais raros que existem”...
Com este livro procuraremos também levar a atenção do leitor para diversos problemas com os quais o Homem se debate há muitos séculos e cujas soluções não estão sendo atingidas plenamente, exatamente por perseguirmos e insistirmos em idéias e pensamentos alienados e errados. A maioria das pessoas tem quase sempre, na ponta da língua, uma desculpa automática para a maioria dos problemas que afligem o mundo, com frases feitas e mil vezes repetidas, com causas superficiais e mal definidas, dentro dos padrões tradicionais do pensamento e continuando assim persistindo nos erros. “Ah, o atraso do Brasil é devido ao colonialismo português...” ou “Acabando com a miséria e o desemprego, automaticamente acaba a criminalidade...” ou “Só com mais educação se termina com a violência...” e mais outras falácias que pouco acrescentam às reais necessidades da vida social. As ineficazes soluções propostas e teimosamente aplicadas pelos governos e pelos políticos socializantes, como “politicamente corretas”, seguem também esses padrões conservadores, tornados normais e aceitáveis pela repetição mas quase sempre com resultados cada vez mais insatisfatórios e mais longe dos objetivos.
Afinal quem são os governantes e os políticos duma nação, senão uma amostra das suas elites e do seu povo em geral? Muitos desses representantes da população somente praticam o conhecido “empurrar com a barriga”, ou o “vamos deixar como está para ver como fica...” que é como que continuar a dar um mesmo remédio a um doente que, em vez de apresentar melhoras, piora da saúde, ou então parecem tentar curar a tuberculose com comprimidos de aspirina...
Se nós desejamos mudar o rumo do mundo e também do Brasil, temos de mudar a maneira de pensar das pessoas, corrigir a mentalidade do povo, modificando os princípios que regem o pensamento comum...
Com ajuda dos atuais conhecimentos técnicos e científicos, aplicados no desenvolvimento sócio-econômico das sociedades, poderemos construir uma sociedade sadia, próspera, cooperativa e pacífica, onde todos possam viver de modo sustentado e satisfatório, melhor talvez até que nos paraísos prometidos pelos religiosos. É uma questão de querermos, é uma decisão política de inteligência. Mas essa ação tão urgente e necessária, como todos os atos humanos, depende do modo de raciocinar das pessoas, da sua mentalidade. E é essa mentalidade média, desavisada, alienada, retrógrada e paralisante, vigente nos países críticos, que é necessário modificar.
Assim, julgar certo, raciocinar lógica e cientificamente é uma técnica que se consegue depois de muito estudo e prática, de muita experiência de vida. E claro, com muita vontade de acertar e de mudar...
É isso que procuraremos explanar aqui neste blogg.

Um pouco de História

A História da Humanidade pode ser considerada como um movimento geral das sociedades humanas em busca do bem estar e da riqueza. Atrás de uma guerra ou de algum feito histórico importante há sempre, escondido ou visível, um objetivo de busca pela riqueza e tranqüilidade social, quase sempre atrelado a determinado desenvolvimento do conhecimento. Os exemplos são muitos: as tribos que ocupavam os melhores terrenos mas que estavam ainda no tempo da pedra lascada, foram vencidas pelas que descobriram como fazer armas de bronze; estas por sua vez foram derrotadas pelos povos que usavam armas de ferro; depois os que utilizaram armas de fogo de carregar pela boca foram vencidos pelos que descobriram armas com carregamento mais eficiente e rápido pela culatra; e depois os que usaram barcos de aço movidos a máquinas a vapor derrotaram os que usavam barcos de madeira e à vela; e assim por diante. Donde o grande interesse pelos cientistas e tecnólogos que tudo isso descobriam e aplicavam. O progresso social e material foi quase sempre impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico e científico das sociedades.
Com os gregos e romanos, o mundo seguia um modo de vida muito ligado à Natureza, de gozo dos bens terrenos, de alegria de viver. Podemos constatar essa visão do mundo dessas sociedades através da sua arte, da sua religião e do seu modo de atuar: os banhos, as festas, os espetáculos, as libações, as guerras, a educação da juventude, o teatro, a literatura, etc.
Com o avanço paulatino do domínio das forças naturais pelo Homem, através das descobertas tecnológicas greco-romanas da medicina, da agricultura, da mineração e da pecuária, surge um vigoroso impulso no crescimento populacional dos grupos humanos, que começam inchar e a se concentrar em grandes cidades, principalmente nas áreas do Oriente e do Mediterrâneo. Nos campos e nas minas, milhões de escravos eram mantidos numa situação cada vez mais degradante, violenta e explosiva. Surgem então as terríveis fomes e epidemias, que juntamente com as guerras, revoltas e tiranias, fizeram do mundo de então algo muito sofrível e indesejável. Spartacus é um caso bem típico das revoltas dos escravos contra a opressão do Império Romano. Nesse contexto de insegurança e fragilidade da vida, nascem então as religiões messiânicas e alienantes, prometendo a vida farta, saudável e sem dificuldades num paraíso extraterreno, depois da morte, portanto depois da saída deste horrível mundo de sofrimento, deste “vale de lágrimas”. Numa seqüência, apareceram, o confucionismo e o budismo no Oriente e depois o cristianismo e o islamismo, no Médio-Oriente, levando a Humanidade para uma fase de fuga da realidade, de misticismo poético, de mortificação, de alienação profunda. Tudo na Sociedade se guiava pelos desígnios divinos, as leis da conduta humana estavam escritas nos livros sagrados, a vida era somente uma passagem necessária e sofrida pela Terra, os princípios morais eram ditados segundo a vontade de Deus, só pensar em gozar os prazeres da vida já era considerado pecado, um sacrilégio... Por isso, a Idade Média, que durou 1000 anos, aproximadamente de 400 a 1400, foi chamada de “a noite dos dez séculos”, os dez séculos perdidos na felicidade e no desenvolvimento da Humanidade...
A Renascença europeia, que aparece no século XV, nos principados do norte da península itálica, enriquecidos pela intermediação no comércio da populosa Europa com o Oriente, marca o início do fim desse período negro medieval, e representa uma retomada da alegria de viver dos gregos e romanos, uma volta à Natureza, um retorno ao Humanismo e aos prazeres da vida na Terra. As artes e as ciências se desenvolvem, começam as descobertas marítimas de outros continentes e de outros povos. Gutenberg descobre a imprensa que permitirá que as pessoas leiam livros e se instruam. A Bíblia, sempre proibida e escondida pelo Vaticano nos porões dos conventos, passa a ser traduzida, pelos protestantes, do latim para as línguas européias e lida por milhares de pessoas. O aparecimento do movimento libertário de revolta contra a opressão das tiranias medievais, semi-esclavagistas e controladas pela Igreja Católica, e que toma o nome de Reforma e leva no seu bojo, como nos mostrou Max Weber, o florescimento da economia de mercado, da Democracia e da pesquisa científica, foi o passo seguinte no desenvolvimento dos europeus, principalmente os dos países do Norte. É então que surge a violenta reação da hierarquia católica, despótica e retrógrada, a chamada Contra-Reforma, através da revitalização da Santa Inquisição, agora designada como Santo Ofício, o qual, pela interferência pesada nas máquinas estatais, conseguiu travar o progresso sócio-econômico e manter os países latinos no atraso medieval, do qual só recentemente se estão libertando através da integração européia e da globalização das sociedades.
Os países que conseguiram se livrar do domínio papal, através de sangrentas guerras, desenvolveram-se social e cientificamente e se democratizaram. Os povos que abraçaram o protestantismo, como escandinavos, alemães, ingleses, americanos e holandeses passaram a encabeçar o progresso do mundo.
A igreja cristã primitiva, baseada que era nas massas miseráveis de escravos e semi-escravos da Ásia e da Europa, tinha sido popular e democrática no início do seu desenvolvimento, enquanto não tinha chegado ao poder, que então estava nas mãos dos romanos, aliás respeitadores da liberdade de culto dos diversos povos dominados. Depois que o cristianismo foi assimilado e aceito pelos poderosos e se tornou a religião oficial do Império Romano, no século IV, iniciou-se aí uma milenar e feroz perseguição aos que tinham outras religiões, através da Inquisição, das Cruzadas, etc. Não esqueçamos que o último “herege” queimado pela Inquisição foi em 1876 e o último “index” do Vaticano de livros proibidos foi publicado em 1961...
A Igreja Católica de hoje, com o objetivo de sobreviver e adaptar-se aos novos tempos, devido à parcial perda de seu poder político e ao recrudescimento democrático das massas, procura de novo recuperar o espaço perdido para outras crenças, aparecendo como a protetora dos pobres e como a defensora dos direitos humanos, que ela tanto espezinhou, durante séculos e séculos. É o lobo escondido debaixo duma pele de cordeiro...

Mentalidade religiosa e franciscana

A MENTALIDADE RELIGIOSA E FRANCISCANA

“Doutrinas políticas ou crenças religiosas que levam os seres humanos a substituir a ‘realidade humana’ pelo ‘ideal humano’ fazem mais mal do que bem à Liberdade, à Democracia e ao Progresso da Humanidade”. Bertrand Russell, filósofo inglês.

“Não sintas pena dos pobres, acabando com os ricos. Acaba sim implacavelmente com os pobres, elevando o seu nível de vida.” George Bernard Show, escritor irlandês.

A Bíblia é, como sabemos, um documento muito controverso, escrito em uma linguagem pouco clara e cheia de contradições. Num versículo Jesus Cristo - JC é, por exemplo, pela igualdade dos homens (João 16-20), para logo à frente defender a escravatura (Lucas 12-47); ele se mostra contra os ricos (Mateus 19-23) e pouco depois aprova os juros e a riqueza (Mateus 20-29, 25-27); salva pessoas doentes e depois nega as regras da higiene (Mateus 15-20, Marcos 7-4, 8-23); se mostra conciliador e resignado (Lucas 6-27) e depois ameaça com vingança e guerra (Mateus 11-34, Marcos 3-29, 6-11); aparece pacífico e manso mas logo adiante agride os mercadores do templo com violência (João 3-15), etc. Por isso não podemos estranhar que haja tantas interpretações e correntes no cristianismo, dividido em múltiplas seitas e orientações, muitas vezes conflitantes. Não há até a seita dos cristãos crentes que seguram víboras e cascavéis nas mãos (Marcos 16-18) e que, se mordidos, se recusam a serem tratados, pois se Deus achar que eles devem morrer, que assim seja?
Nessa profusão de interpretações da bíblia, surge uma muito importante e prevalecente: a dos franciscanos.
Em 1209, fundada por Francisco de Assis, aparece a Ordem dos franciscanos, frades mendicantes que pregam o abandono das riquezas terrenas, buscando o encontro com Deus através de uma vida simples e desprendida. Fazem o voto de castidade e o de pobreza, são contemplativos, supostamente alienados das realidades da vida, vivem na mendicidade, na simplicidade, no isolamento dos conventos, no sacrifício do corpo e da alma, na resignação perante os desígnios de deus. É conhecida a oração de S. Francisco, onde ele difundiu o célebre e muito usado preceito “É dando que se recebe”.
Pouco tempo depois, em 1215, o religioso castelhano Domingos fundava a Ordem dos dominicanos, também ermitas e devotados à evangelização dos pagãos, e que teve um ilustre membro, S. Tomás de Aquino.
Estas duas ordens formaram, durante séculos, o núcleo que dominou e dirigiu a Santa Inquisição e a própria Igreja Católica.
Abraçando outra interpretação dos evangelhos e no redemoinho da luta contra os protestantes, aparece em 1539, chefiada por Inácio de Loyola, a instituição da Companhia de Jesus, dos temidos jesuítas, guerreiros e fundadores de escolas e universidades, muito disciplinados e eficientes. Devido às desavenças internas do clero católico, não conseguiram impor o seu modo de ver da religião, bem mais próximo da mentalidade prática e protestante, e perderam a luta ideológica dentro da Igreja, ficando vencedora a visão franciscana do catolicismo. Cabe lembrar aqui que o padre jesuíta Anchieta, fundador da cidade de São Paulo, ficou quatro anos confinado por problemas de suposto desvio de fé, preso pelos franciscanos e dominicanos, milenares senhores da defesa da pureza da fé e da Inquisição.
Os jesuítas, disciplinados, eficientes, produtivos, enriquecidos, muito organizados e poderosos, causaram muita inveja e foram perseguidos pelos outros religiosos e pelos governos reais, acabando por ser extintos em 1773, pelo Papa Clemente XIV, mas logo depois restabelecidos pelo Papa Pio VII em 1814.
Francisco de Assis, como Buda, nasceu rico e poderoso. Mas um belo dia resolveu distribuir aos pobres todas as riquezas, herdadas de seus pais, e levar uma vida de mendigo, que ele achava ser o modo mais cristão de viver, uma imitação da vida de Cristo, que tinha aparecido uns mil anos atrás.
As idéias e orientações das ordens mendicantes, tomaram grande importância no ideário das pessoas e se tornaram uma das principais correntes do cristianismo, aliás preponderante, pois se fixou como paradigma e modelo do verdadeiro cristão.
O franciscanismo, com suas raízes no budismo e hinduísmo, condena a riqueza e os ricos, idolatra a pobreza, prega a distribuição dos bens e a esmola, endeusa o miserável e o pobre de espírito, faz voto de castidade, acusa o sexo como um chamamento do diabo, não trabalha e mendiga para viver, recusa os bens e prazeres terrenos e leva uma vida de sacrifício e de alienação do mundo. A passagem transitória por este mundo é considerada um “vale de lágrimas e de sofrimento”, pois só seguindo o modo de vida de Cristo e a palavra de deus se obtém a salvação, a vida eterna e o paraíso. Bom e confortável é o que nos aguarda no céu depois do sofrimento e finalmente da morte, nada de bom poderemos esperar desta vida terrena.
Essa mentalidade franciscana, imposta a ferro e fogo pelo terror da Santa Inquisição, durante mais de quinze séculos da Idade Média e da Contra-Reforma, ficou entranhada na mentalidade dos povos, principalmente dos latinos do sul da Europa. Assim se instalou um dos principais sistemas de contradições na mentalidade popular: por um lado há o chamamento da vida e dos prazeres terrenos; por outro, a obrigação de se seguir a conduta de alienação franciscana e cristã.
Uma dessas contradições que aparece frequentemente no modo de pensar das pessoas com vinculação religiosa é o problema da existência da riqueza e do ideal de pobreza.
Os teóricos protestantes primitivos (Calvino, Lutero, e outros), como nos mostra o genial sociólogo alemão Max Weber, consideraram a riqueza como um objetivo natural e válido para as pessoas, sendo o importante o que se faz com os bens e não a sua existência. É o espírito da pré-destinação dos calvinistas: se você consegue a riqueza, por meios lícitos, então é porque Deus assim quis que fosse, é um premio à sua perseverança e ao seu esforço laboral.
Já os dogmas católicos e franciscanos condenam peremptoriamente a riqueza e os juros, confirmado pelo Concílio de Nicéia que, no século XI, tornou pecaminosa a usura, castigada com a morte na fogueira. Assim, se você comprasse um produto por 100, teria de vendê-lo também por 100, ou então podia ser morto no braseiro, acusado de agiota, de comerciante... Essa decisão teve embasamento nas contraditórias escrituras, onde Cristo se mostrou contra os ricos, repetindo que “é mais fácil um camelo (a tradução correta parece ser “corda”) passar pelo buraco duma agulha do que um rico ir para o céu “... Interessante que o Alcorão muçulmano copiou e segue em grande parte essas mesmas idéias do franciscanismo...
Mas a verdade é que Cristo e seus seguidores eram alienados dos valores terrenos, pouco se importavam com a vida real na Terra, que aliás era, nesses tempos, horrível, com doenças, sofrimento, fome, ignorância, violência, escravidão, despotismo, guerras, etc. Nada mais tentador para as mentes desses difíceis tempos que criar uma fuga, imaginar um lugar ideal, um Paraíso, um Céu, onde tudo fosse conforto, tranqüilidade e beleza. Daí a grande contradição que permanece na mentalidade das pessoas, entre essas idéias recebidas desses tempos e a realidade da vida. Hoje como sempre, todos anseiam por melhorar de vida, com boas casas, confortáveis automóveis, comida farta, belas roupas, muita diversão, cultura, viagens, dinheiro em grande quantidade, bons hospitais, escolas de qualidade para os filhos, e tudo isso aqui acessível na Terra e não depois da morte... Não é isso tudo um objetivo claro de riqueza? Não é também a ideologia do comunismo uma proposta de enriquecimento coletivo das pessoas, dum futuro paradisíaco na terra, numa liberdade idílica? Joga-se nas loterias e bingos como nunca, sempre com o fito da riqueza fácil... Todos desejam ser ricos mas, no entanto, têm vergonha de expressar esse desejo! Pois que desejar ser rico é um terrível pecado no catecismo católico! Mesmo assim não se desdenha poder gozar esses confortos no outro mundo, por isso convém dar esmolas e ir à igreja de vez em quando, para marcar uns pontos no prontuário celeste... É essa a razão principal do avanço e enriquecimento das seitas cristãs neo-pentecostais sobre as tradicionais seitas religiosas: sem subterfúgios e claramente, elas prometem o êxito nos negócios e na vida amorosa e familiar aqui na Terra, desde que se frequentem as reuniões e se paguem os devidos dízimos...
Aqui temos, a meu ver, um dos impasses mais importantes da nossa mentalidade escolástica e religiosa. Continuamos afirmando como nosso ideal de vida o modelo franciscano (Cardeal Arns, frei Beto, frei Boff, Betinho, Madre Teresa de Calcutá, os santos, etc.), com os seus votos de pobreza e de castidade, de despojo e indiferença pelas riquezas, mas por outro lado, todos nós corremos naturalmente atrás do dinheiro, do conforto, do luxo, das viagens. É uma situação dúbia, que leva a frustrações imensas e à hipocrisia, que pode chegar à desorientação, ao crime, ao desespero, mesmo à loucura. Cristo lembrou que os pássaros comem sem plantarem (Mateus 6.26). Nessa mesma linha de atuação dos monges budistas (não esqueçamos que Buda pregou essas mesmas ideias mais de 600 anos antes de Cristo!), os franciscanos mendicantes não estão orientados para a produção de riquezas mas sim para a recolha dos produtos existentes, para a distribuição dos bens dos outros, dos “trouxas” que produzem! Eles nada constroem, pedem esmola, mendigam comida dos que plantam! Na verdade, não poderiam nunca servir de modelo de vida do povo em geral. Fazer o voto de pobreza equivale ao doente que faz tudo para continuar doente e que considera a miséria como algo definitivo e aceitável... E se todos fossem como eles, pobres, contemplativos, improdutivos, a quem iriam pedir comida e dinheiro para se manterem vivos? O que aconteceria com a pregação dos franciscanos se acabasse a miséria? Já pensaram como seria um país governado por franciscanos ou beneditinos? Certamente não seria muito diferente dos governos dirigidos pelos cruéis talibans e fanáticos ditadores muçulmanos, como por exemplo o miserável Afeganistão... Aliás já tivemos na Europa a comprovação do efeito danoso desse domínio dos religiosos na governança, quando o poder da igreja era total e todo o ensino estava sob controle da Igreja, a economia ficou estagnada, a mentalidade científica reprimida, a vida era de sofrimentos, durante a terrível Idade Média, a chamada “noite dos dez séculos”...
É interessante que se ouve, por vezes, pessoas clamando que os males do mundo atual são devidos ao progressivo abandono das religiões, à existência de “pouco deus nos corações”. Pelo contrário se pode verificar na História que quanto mais deus estava presente no espírito dos povos, quanto mais escolástico e supersticioso é o pensamento das pessoas, maiores eram as desgraças que eles sofriam. Quanto mais religião franciscana, mais pobreza e ignorância... Portanto, a História comprova que quanto menos deus melhor, o que não se deve confundir com a falta de regras e princípios morais, que é outro assunto que trataremos depois.
A História moderna mostra que o grande desafio para os governantes eficientes não é como dividir a riqueza, onde todos ficam pobres, mas sim como aumentá-la, como multiplicar os pães, como tornar todos...ricos! O enfoque deve estar nesse lado positivo do problema, de como melhorar a eficiência da economia e do trabalho, aperfeiçoar a inteligência e a cultura da população, melhorar a qualidade dos produtos, buscar a excelência nos serviços, aumentar as riquezas, os bens, o nível de vida, a produção sustentada, a poupança. Distribuir as riquezas é fácil; o difícil é criá-las e multiplicá-las. Tivemos há pouco tempo uma prova concreta dessa contradição, com o fim do comunismo, que, cerceando terrivelmente as liberdades e a iniciativa pessoal, dividiu as riquezas disponíveis nas sociedades, fez uma distribuição igualitária da renda dos trabalhadores, transformando todos em pobres, mas que felizmente acabou sendo rejeitado pela população e que desmoronou sem luta em quase todos os países onde se implantou.
Ficou assim clara também a constatação das semelhanças entre o cristianismo escolástico e o comunismo totalitário, conforme muito bem observou Bertrand Russell no seu livro “História da civilização ocidental”, pois ambas essas ideologias estão alicerçadas na interpretação distributiva e franciscana da Bíblia.
Assim os mesmos problemas da maioria dos povos persistem, se mantêm sem resolução há séculos, pois as pessoas e os governantes, recusam-se a utilizar a pragmática mentalidade científica e insistem com os repetidos raciocínios errados da mentalidade religiosa e escolástica. A explosão demográfica, as multidões de miseráveis e ignorantes, as fomes e as epidemias se repetem, as guerras fratricidas continuam. E sabemos que idéias e filosofias erradas levam a atos e resultados errados. A maioria dessas populações e seus governos continua se voltando para os santos e deuses, suplicando e aguardando as “providências divinas”, escorada na mentalidade antiga e parada no tempo dos alienados e arcaicos princípios religiosos, em vez de enveredar pelo trabalho eficiente, pela excelência na produção, pela educação científica e racional do povo, pelo desenvolvimento da inteligência e da pesquisa tecnológica, pelas ações pragmáticas, realistas e de resultado. Continuamos enviando as nossas crianças para serem educadas por clérigos fundamentalistas e equivocados, muitos pedófilos até; seguimos dando aos nossos filhos, como exemplo de homem ideal, o Cristo bíblico, um carpinteiro falhado, que não se interessava pelo trabalho produtivo, sem a preocupação com o dia seguinte, que nunca se casou, nem teve filhos para educar e que vivia totalmente alienado, pensando somente em como escapar desta vida terrena, terrivelmente penosa, e se refugiar no que ele chamava de céu, ou paraíso, na proteção freudiana do pai... Que ajuda válida podem nos dar os conselhos desse suposto filho de deus que se adaptem às necessidades da vida atual? Qual o pai que desejaria para marido de sua filha, ou qual a mulher que gostaria de ter como esposo, alguém como o Cristo, sonhador, visionário, desconhecedor das regras da higiene, improdutivo e vivendo à custa do trabalho dos outros?
Podemos relembrar, por exemplo, quando no Brasil, nos anos 90, por incompetente falta de previsão científica no enfrentamento dos problemas hídricos, em meio duma terrível situação de escassez de chuvas, que diminuiu o nível dos reservatórios de tal modo que se caminhava para a necessidade de cortar o fornecimento da energia hidroelétrica, o famoso “apagão”, muitas pessoas importantes da máquina estatal e da política, declaravam abertamente nos meios de comunicação que a única solução viável era “rezar para que o São Pedro se resolvesse a mandar as faltantes águas...”, de preferência com rezas e missas do popular padre Marcelo...

O que buscamos

"Para mudar a mentalidade de um povo, primeiro temos de mudar os princípios em que ele acredita." Winston Churchill